Domingo, 03 de Agosto de 2025
A brasileira Lilia Guerra e a chilena Alia Trabucco Zerán discutiram, na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), as duras condições das trabalhadoras domésticas, por meio de suas obras literárias mais recentes. Os romances O céu para os bastardos e As limpas têm como personagens principais mulheres em trabalho doméstico, função que carrega uma forte herança da escravização e reflete, ainda hoje, a desigualdade social nos países latinos.
São três gerações de trabalhadoras domésticas na família de Lilia. 'Todas as mulheres da minha casa eram trabalhadoras domésticas, minha avó, minha mãe e minha tia. Desde que eu acompanhava a rotina dessas mulheres, sempre conversando, contando e comentando as coisas que aconteciam, eu projetava essa carreira para mim também', contou na mesa intitulada 'A casa, o mundo'.
Quando criança, Lilia acompanhava a avó nas casas em que trabalhava. Depois, a mãe, até que ela mesma iniciou no trabalho doméstico.
A autora relatou que, no momento da escrita, recorreu à memória e às experiências vividas no contexto do trabalho doméstico. 'Eu observava a minha avó e observava também os empregadores. Na hora de escrever, eu tinha a experiência da funcionária e podia empregar muitas coisas ali. Na hora de formar o perfil dos empregadores, dos patrões, eu recorri a essa observação, a essa escuta, à lembrança e à memória para fazer as construções.'